segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

5) O Primeiro Livro Publicado em Português

Páginas de uma das edições mais antigas
- provavelmente do século XVI, em Lisboa -
de "O Sacramental". 

"O Sacramental", 
de Clemente Sánchez de Vercial,
é considerado 
o primeiro livro
originalmente impresso em português. 



A impressora inventada por Gutemberg (veja no capítulo anterior) trouxe o surgimento da técnica conhecida como "tipografia". O primeiro livro impresso tipograficamente foi a Bíblia, em latim. A confiabilidade no texto e a capacidade do livro atender à demanda de um público cada vez maior tornou-se dependente da tipografia. Em Portugal, a novidade chegou no início do reinado de D. João II, que governo o país de 1481 até sua morte em 1495. O primeiro livro impresso em Portugal foi o Pentateuco (os cinco primeiros livros do Velho Testamento, da Bíblia), na cidade de Faro, mas com caracteres hebraicos. Não se sabe com exatidão qual foi o primeiro livro realmente publicado em língua portuguesa, mas muitos estudiosos consideram que tal livro tenha sido "O Sacramental", de Clemente Sánchez de Vercial.
O que se tem como informações concretas sobre "O Sacramental" é que sua primeira edição foi impressa em 1488 na cidade de Chaves, mas o autor não era português. Ele era um padre de León, uma província da Espanha. As primeiras edições de seu livro foram redigidas por ele entre 1421 e 1425 em castelhano, e a primeira edição em português que se tem conhecimento até hoje foi a de 1488, mas muitos estudiosos dizem que não há evidências definitivas sobre isto. Eles afirmam que é o primeiro livro impresso em português em Portugal, mas que isto não significa que outros livros possam ter sido impressos em português fora daquele país antes de 1488.
"O Sacramental" foi um dos livros mais lidos durante o século XV na Europa. Teve várias edições impressas em castelhano e português desde a introdução da imprensa até meados do século XVI. Apesar de seu autor ser um padre, a obra continha informações e ensinamentos que contradiziam o que a Igreja Pregava, e por isto as primeiras edições foram proibidas pela Inquisição. Das edições em português, são conhecidas quatro: no século XV, a de 1488 em Chaves e a de Lisboa num ano não identificado; no século XVI, uma em Lisboa em 1502 e uma em Braga em 1539.



Fontes: 
  • Almanaque Mundial - Editora Lisa - Rio de Janeiro - RJ (Brasil)
  • Enciclopédia Conhecer - Vol. I - Série Verde - Editora Abril - São Paulo, SP (Brasil).
  • "The World's Religions", de diversos autores - Lion Handbooks, Londres, Inglaterra. 
  • Ilustrações: Arquivo Google.

A seguir:  Os Livros no Século XX - O surgimento dos livros eletrônicos.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

4) Surgem os Livros Impressos

A invenção 
de Johannes Gutenberg 
foi fundamental
para a proliferação dos livros
no início da Idade Moderna.

Uma página da primeira edição da Bíblia
impressa por Gutenberg.


Não há dúvida de que a invenção mais importante da Idade Média ocorreu no século XIV. Geralmente atribui-se a Johannes Gutenberg a invenção da máquina de impressão. No entanto, a impressora do inventor alemão só foi concebida no início da Idade Moderna, mas foi no século XIV, em fins da Idade Média, que surgiu na China um sistema de gravação de cada página de um livro em blocos de madeira. Essa invenção foi concebida por Pi Sheng em 1405. Era uma máquina impressora de tipos móveis, o que obviamente deve ser considerado como um grande avanço considerando-se a tecnologia disponível na época. Porém, o maior passo tecnológico para a impressão foi dado mesmo através da invenção de Gutenberg.
Em 1455, Johannes Gutenberg criou uma máquina impressora composta por tipos móveis reutilizáveis. Esses "tipos móveis" são peças de prensas mecânicas para impressão de textos. Eles podem ser de madeira ou de metal fundido. Cada tipo corresponde a uma letra ou caractere. O primeiro livro impresso por ele foi a Bíblia em latim. Isto fez com que os copistas (veja o capítulo anterior) ficassem preocupados, pois temiam perder sua ocupação. A invenção causou também preocupação aos líderes da Igreja de uma maneira geral, pois a impressora de tipos móveis reutilizáveis popularizou todos os tipos de livros da época definitivamente, reduzindo preços e aumentando o acesso da população a eles.
Este foi um grande marco no início da Idade Moderna, pois permitiu o surgimento do que até hoje chamamos de "imprensa". Por isto, embora equivocadamente, costuma-se dizer que Gutenberg "inventou a imprensa". Evidentemente, cabe a ele o mérito de ter iniciado, através de sua invenção, o desenvolvimento de uma técnica de tipografia que deu maior suporte à confiabilidade do texto e à capacidade do mesmo chegar a um público maior. Isto provocou mudanças drásticas. As letras dos manuscritos, por exemplo, tiveram que ganhar novas formas porque as antigas caligrafias continham detalhes impossíveis de ser grafados através dos tipos móveis.

A seguir: O primeiro livro publicado em português.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

3) Os Livros na Idade Média

Alguns livros da Idade Média
atualmente expostos em museus.
Na Idade Média,
a ditadura imposta pela Igreja
só permitia
que o povo lesse
apenas livros 
permitidos pela Igreja.






Como se vê na segunda parte desta história, os códex surgidos durante o Império Romano aceleraram os passos para se chegar ao que já era o livro propriamente dito, tal como o conceito que se tem do que seja um livro até hoje: um volume composto por páginas encadernadas, com textos e com ou sem imagens (ilustrações). Porém, naquela época ainda eram manuscritos (escritos à mão). As ilustrações também eram verdadeiras obras de arte feitas à mão. Na ilustração acima, estão fotos de alguns livros daquela época. Note que a Bíblia era, algumas vezes, publicada em exemplares que eram fechados por tiras de couro e botões ou fivelas.
A Idade Média é um período histórico da Europa, iniciado no século V e findado no século XV depois de Cristo (d.C.). Foi um período de excessivo fervor religioso e de muito medo imposto pela Igreja, cujos mandatários perseguiam e mandavam perseguir todas as pessoas que ousassem desobedecer suas determinações e as condenava à morte, a maioria em fogueiras em praças públicas. A Igreja proibia, por exemplo, a publicação e a leitura de livros que não fossem aprovados pelo clero.
Por isto os livros mais marcantes dessa época eram de cunho religioso. Muitos deles eram produzidos pelos monges copistas, cujo nome já indica suas funções: copiavam nesses livros ensinamentos religiosos. Entre estes, surgiram os primeiros livros didáticos, com ensinamentos destinados à formação de padres. Nos conventos, era conservada a cultura da Antiguidade, através da preservação de obras como as de Platão, Sócrates e outros sábios da Grécia Antiga, como também do Egito Antigo, mas o acesso a esses conhecimentos era restrito somente aos monges - e ainda assim, a alguns privilegiados entre eles. Vem daí a influência passada aos monges copistas: eram escribas como os do antigo Egito.
Isto explica também a origem da expressão "livro didático".  A palavra "didático" veio do idioma grego para significar o que se pode traduzir como a arte e a técnica de ensinar. Nessa época, os livros ganharam mais uma evolução quanto aos seus aspectos e às suas funcionalidades: as páginas passaram a ter margens e os volumes passaram a ter páginas em branco para identificar o fim de um capítulo ou uma parte do livro e o início de outra. Também foi nesse período que surgiram as letras maiúsculas para iniciar nomes próprios (de pessoas, lugares, etc.), frases e parágrafos.
A despeito das proibições da Igreja, vez por outra surgiam os "florilégios". Um florilégio era simplesmente um livro único contendo textos de vários autores. Geralmente eram poesias, crônicas, e muitas vezes tratados científicos. Havia também florilégios eróticos, e isto obviamente levou muita gente a morrer nas fogueiras.
Mesmo em todos países da Europa - Alemanha, França, Portugal, etc. - a maioria das publicações ainda era em latim. As páginas dos livros, embora encadernadas, ainda eram de peles como os pergaminhos (veja a primeira parte). Aos poucos, porém, elas passaram a ser de papel e, em cada país, as publicações começaram a ser feitas na língua vernácula. Porém, ainda eram manuscritos. O passo mais importante na evolução dos livros foi dado ainda na Idade Média com a invenção da impressão.


A seguir: Os Primeiros Livros Impressos

domingo, 24 de novembro de 2013

2) Os Códex

Partes do "Codex  Alexandrinus"
Da palavra latina "codex",
vieram as palavras
"códex", "códice"
e "código". 



No capítulo anterior, foi apresentado um resumo do que ocorreu desde o advento da escrita até o surgimento dos primeiros pergaminhos. Foi explicado que em impérios como o da antiga Roma passou-se a dar preferência aos velinos, que eram pergaminhos feitos de peles de bezerro ou outras mais delicadas, para grafar documentos importantes.
Foi a partir dessa época que surgiram em Roma os "codex" (em português, "códex"), cujo nome simplesmente era "livro" em latim, o idioma então falado pelos romanos. Os códex eram manuscritos gravados em madeira, utilizados até o quinto século depois de Cristo, quando se iniciou o período hoje conhecido como "Idade Média". Entretanto houve outros códex mais tardios, como os Manuscritos do Novo Mundo, que tratavam de informações referentes à descoberta da América. Estes são datados do século XIX.
Entre os códex mais conhecidos, consta o "Codex Alexandinus" ("Código Alexandrino" em latim), cujos fragmentos podem ser vistos na ilustração acima. foi escrito durante a primeira metade do século V e contém grande parte do Novo Testamento (a segunda parte da Bíblia cristã). Também contém a "Septuaginta", que é uma versão da Bíblia hebraica para o koiné, uma linguagem grega popular surgida na Grécia após a Antiguidade Clássica (do século VIII a.C. ao século V d.C.).
Como se vê na ilustração, o Códex Alexandrino foi escrito em duas colunas por cada peça, e cada peça é um livro. As linhas iniciais de cada livro foram escritas em vermelho (detalhe que não se vê claramente na foto devido ao desgaste causado pelo tempo). Cada uma das seções é marcada com uma grande letra na margem. Isto sugere que o manuscrito contém também mensagens que só podem ser interpretadas por pessoas especializadas em identificações de mensagens ocultas. Isto explica o surgimento das palavras "códice" e "código", na língua portuguesa, derivadas de "codex". Atualmente, "códice" significa qualquer coleção de manuscritos (documentos escritos a mão), e "código" pode significar um conjunto de leis (como o Código Penal), um conjunto de regras sociais ou um sistema de símbolos a serem decifrados para se obter a revelação de uma informação. 
Em Roma, a leitura ocorria às vezes em praças públicas, para o povo, num evento chamado "recitatio" ("recitação" em latim), ainda na época dos pergaminhos, mas também no início do período dos códex. Foi por essa ocasião que surgiram, também em Roma, as primeiras obras literárias para lazer e cultura, como poesias. Uma das obras mais conhecidas dessa época é "A Eneida", do poeta Virgílio, que ele escreveu a pedido do imperador Augusto. Nessa época também surgiram em Roma as primeiras livrarias, onde os livros podiam ser comprados. Portanto, surgiu também a participação dos especialistas em edição, que hoje chamamos de "editores". Surgiu então a primeira bíblia cristão em códex escrito em papel, mas ainda manuscrito, com as páginas pregadas através de uma costura e com a capa decorada em relevo, como a que se vê   na ilustração abaixo.

Fontes: 
  • Almanaque Mundial - Editora Lisa - Rio de Janeiro - RJ (Brasil)
  • Enciclopédia Conhecer - Vol. I - Série Verde - Editora Abril - São Paulo, SP (Brasil).
  • "The World's Religions", de diversos autores - Lion Handbooks, Londres, Inglaterra. 
  • Ilustrações: Arquivo Google.


A seguir: Os livros na Idade Média.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

1) Como Tudo Começou - Os Primórdios dos Livros

Os pergaminhos eram de peles de animais como cabras e carneiros. 
Assim como 
a escrita,
os livros surgiram
da necessidade 
de se preservar 
a História, 
histórias e tradições
e informar fatos. 



Cunha de metal
As primeiras evidências do surgimento da escrita são de meados do quarto milênio antes de Cristo. Por aquela época os mesopotâmios haviam criado um sistema de escrita para utilizá-lo para contabilidade. Para escrever, eles usavam um instrumento pontiagudo triangular, pressionando-o sobre uma superfície de argila mole para gravar números. Com o tempo, esse processo foi evoluindo até chegar à escrita propriamente dita, pictográfica.
Mais tarde os instrumentos pontiagudos foram substituídos por uma cunha - ferramenta de metal ou de madeira dura para fender superfícies de de madeira. Vem daí o nome "escrita cuneiforme". No antigo Egito, já se utilizava um tipo de papel feito das fibras de uma planta chamada "papiro" (vindo daí o nome "papel", que usamos até hoje). Um exemplo disto é o fragmento, mostrado abaixo, de um dos mais famosos documentos da Antiguidade: o "Livro dos Mortos" do Antigo Egito. (*)
Inicialmente grafavam-se logogramas. Um logograma é um símbolo único que expressa toda uma frase ou um conceito completo. O logograma que denota um conceito através de um símbolo gráfico é um ideograma, como os que os japoneses usam até hoje. O pictograma é um logograma que representa um conceito através de uma imagem. 


Escrita suméria
grafada em tábua de argila.
Esta peça foi produzida
entre 2.400 a.C. e 2.200 a.C.

A escrita se desenvolveu de forma independente entre vários povos do mundo. Pelo menos no início, não houve influências mútuas. A cuneiforme e os hieróglifos como os do antigo Egito são as mais antigas conhecidas até hoje. 
hieróglifos do Antigo Egito
A escrita cuneiforme surgiu entre os sumérios, na Mesopotâmia, região entre os rios Tigre e Eufrates, cujo território atualmente é ocupado pelo Iraque e outros países vizinhos, no Oriente Médio), na mesma época do surgimento dos hieróglifos no Egito. Isto foi há cerca de 5.500 anos.
Fragmento do "Livro dos Mortos",
do antigo Egito. 
Também por essa época surgiram os pergaminhos. Eles se originaram em Pérgamo, uma cidade grega na Ásia Menor, vindo daí o nome pelo qual são conhecidos. Eram simplesmente peles de animais - geralmente cabras ou carneiros - preparadas para a escrita. Os que eram feitos de peles delicadas como as de bezerros eram chamados de velinos. Estes, por proporcionarem um material de escrita fino, macio e claro, eram utilizados para documentos importantes na antiga Roma, na Grécia, etc.

(*) Um artigo sobre o "Livro dos Mortos" será publicado brevemente no blog "A Religiões do Mundo".



A seguir: O Códex.

Fontes: 
  • Almanaque Mundial - Editora Lisa - Rio de Janeiro - RJ (Brasil)
  • Enciclopédia Conhecer - Vol. I - Série Verde - Editora Abril - São Paulo, SP (Brasil).
  • Ilustrações: Arquivo Google.